segunda-feira, 9 de junho de 2008

Barca Bela (Almeida Garrett)

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdidoé remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela
Oh pescador!


Analise da obra

O poema barca bela é composto de cinco estrofes, ele demonstra desejo, concepção da beleza, com uma linguagem mais simples e popular, os versos melodiosos, os sentimentos mais espontâneos. É um poema que fala de si próprio, refere-se a ele mesmo, há uma metalinguagem, que traz em seu contexto o romantismo. Na primeira estrofe o poeta monta seu cenário e inicia sua conversa com seu interlocutor. O eu-lírico dirige-se ao pescador, ou seja, o poeta fala consigo mesmo. Na segunda estrofe o poeta cria um ambiente para sua encenação estabelecendo a escuridão do céu nublado no qual a última estrela se esconde. A escuridão da noite é típica do romantismo, ocorrendo o desenrolar dos sonhos, uma imaginação sem limite. Ao pescador, que antes navegava com uma direção estabelecida, guiada pela vela, o eu-lírico recomenda que colha a vela ficando, portanto, à deriva. Bastante triste com a realidade ao seu redor, em conflito com a sociedade e dilacerado pelos seus dilemas íntimos, o romântico procura fugir no espaço , no tempo, no sonho e no fantástico. Na terceira estrofe quando introduz a imagem do canto da sereia. O poeta romântico busca a ascensão da voz misteriosa da sereia, que é a própria poesia. Na quarta estrofe o poeta explica porque o pescador deve ter cuidado ao se aproximar da sereia. Por um deslize ou descuido, o pescador poderia embaraçar sua rede nela, e estaria acabado. Na quinta e última estrofe o poeta parece querer impedir o pescador/poeta de deixar-se levar pelo encantamento da sereia, mas essa tentativa parece vazia. A repetição da ordem “foge dela, /Foge dela” cria uma ordem que não deve ser cumprida, sua repetição deixa clara a negação da ordem. A vontade de se render e se entregar, apesar dos riscos, sobrepõem-se ao medo da perdição.

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